quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Balanço da Peregrinação Ultreya X - 2015


Chegada a Mosteiro de Armenteira
 
Queridos Peregrinos Ultreya X

Agora... 6 dias depois de chegar do Caminho e da Paz emanada de Santiago.... posso dizer que tudo acabou Bem. Porque tudo acaba sempre Bem.

Como disse o Pe. Ricardo Neves antes de morrer: “Tudo acaba Bem, e tem um Bom Fim, porque Deus me cura ou me leva para o Céu”. Concordo. É uma boa perspectiva.

Afinal  tudo vem de Deus e é o que Ele quer para nós e para nossa Aprendizagem e Mudança de Vida....

Durante 8 meses preparei Ultreya X com carinho e muito pormenor. O percurso, os Alojamentos, os 10 dias de Menús diferentes de acordo com as vontades/necessidades de cada um, os transportes, a Santiopédia....Recebi durante 7 meses consecutivos todos os que quizeram pôr-se a Caminho.

Uns mais vezes, outros menos... sempre quando cada um queria/podia. Cada vez confirmo mais que à volta da nossa mesa de jantar tudo é fácil... todos concordam com os requesitos e todos prometem que irão deixar-se levar pelo Espírito de Santi e o propósito do Peregrinar com Ultreya.... que tão bem identificamos como Peregrinamento.... nunca confundir com Turigrinamento....

Mas no Caminho a coisa pia mais fino J

Há os que Sim e há os que Também... porque afinal se uns vão como Peregrinos outros passam a Peregrinos no momento que entram na Catedral. Isso foram as palavras sábias do Cabildo D. Luis na Homilia. Mesmo que não nos apercebamos disso, é assim que Deus nos vê. Porque Deus vê-nos sempre... Ele saba onde estamos, mesmo que nós não saibamos onde Ele está e não o levemos na nossa Mochila.

A Peregrinação correu mesmo Bem. Acreditem.

Começou em Pico de Regalados numa Festa... tal como Jesus, fez o seu Primeiro Milagre nas Bodas de Canã, num Casamento, Ultreya X começou à volta do nosso 40º aniversário de Matrimónio... e com muita festa, comida, música, dança, visitas culturais, gastronómicas, Missa, renovação de votos, bençãos, fotos e brindes, com pormenores, no cântico do Povo de Deus, trazido pela Fernanda e transformado no nosso Hino, e do Bom Pastor, que tanto dizem ao nosso grupo, os Missais, os Marcadores, as Pagelas, o bolo alusivo ao lenço dos Namorados, os licores.... e muita Amizade, Companheirismo e Amor... nunca esquecerei todos aqueles que poderam estar presentes nesses dias 5 e 6 e conseguiram que fossemos a sua Prioridade. Claro que houve quem estivesse em espírito e lamentavelmente sem presença física e bem sabemos a pena que tiveram e a amizade que nos dedicam.

Mas a Vida é assim... nem sempre temos tudo que desejamos, mas temos seguramente tudo que precisamos.

E lá fomos nós até Tomiño... carregados de malas, bagagens, e muita coisa prescindivel... mas é tão difícil desapegarmo-nos ... tudo parece que precisamos.... e depois....

Essa primeira paragem junto à Igreja de Santa Maria e a visita ao Cemitério onde estão os meus Abuelitos, foi profundamente simbólica. E também essa primeira oração à Virgen do Alívio, onde partilhámos da Novena, foi voltar mais de 50 anos atrás, mas por outro lado viver no Presente a devoção à nossa Mãe e pedir-lhe colo no nosso peregrinar é muito reconfortante. E ainda... encontrar e conhecer a prima Esperanza Blanco foi uma alegre “casualidade”.... daquelas que o Caminho nos proporciona J

No dia 7 partíamos por um Caminho desconhecido, mas com Esperança, Silêncio, Fé e Vontade de Escutar o que o Caminho e Deus tinha para me dizer... Ah e quanto me disse.

Foi uma peregrinação muito desafiante.... há anos que não cruzava tantas “pontes” entre as margens de Deus e do “mafarrico”... sim, o mafarrico este ano foi connosco. Meteu-se nas mochilas, nos corações, nos olhares, nas maledicências, nas criticas, nos desafios à liderança, nos atrasos, na ausência de escuta da Santiopedia e das leituras, na ausência de oração, na desatenção se havia comida para os outros ao “abarbatarmos” tudo que era possível arrebanhar, na ingratidão, no afastamento, quando naquela encruzilhada ... e de seguida nos perdemos e demos voltas e voltas.... mas depois até encontrámos um portão aberto, uma sombra e 2 mulheres que nos acabaram por acolher tão generosamente, nos deram água, os seus sorrisos .... e até mesmo sempre que alguém não se dava aos outros no Caminho.... porque a paragem na Escola com as Crianças e a visita à Família de Jesus que alguns não quizeram viver, foram momentos em que o Mafarrico andava junto, tal como na noite da Discoteca, que bastava estar 5 minutos e já ofereciamos gratidão a quem nos abriu a sua casa.... esses momentos de não presença, desviando-nos do Caminho... Como foi bom escutar e vibrar com aqueles olhos cor do Mar do professor das crianças. Como foi bom dar aquele abraço à filha de Jesus e partilhar momentos com gente boa, pois aquela jovem que cuida dum filho doente e duma filha do coração e tem aquele olhar, só pode ser de Bem e faz-nos sentir Bem.

Ir a Santiago com Ultreya não é fazer turismo, porque para isso há muitas formas menos cansativas e até quem sabe mais económicas... nós não vamos às compras, nós não temos tempo par fazer visitas culturais a monumentos... nós só temos tempo para o Caminho, para o Silêncio Interior, para a Reflexão, para a Alegria e os bons momentos da vida incluindo os gastronómicos e as Cantorias, para a Oração, Meditação e para poder Amar... Claro que peregrinar está de moda e é uma boa moda.... mas não vale a pena peregrinar “por moda”, porque é giro, sei lá... porque conheço gente que foi.... mas depois não quero chuva, não quero sol, não quero vento, não quero comer o que me põem à frente, não quero parar quando o grupo quer e precisa, não quero rezar ou acompanhar quem reza porque não me apetece.... e por aí em diante....

No Caminho todos nos tornamos melhores e todos somos desafiados a activar o pior de nós.... isso é quando o mafarrico encontra a nossa brecha.

Mas tivemos muito mais momentos altos onde Deus esteve lá, tomou conta de nós, apontou Caminho, fez-nos amar, ser alegres e felizes... e ía na nossa mochila...

E foram para mim muitos... e muito diferentes todos. Partilho alguns....para além do que vivemos aqui no Pico e em Tomiño, a escuta do Hino de España à porta da Igreja de Tebra, a visita inesperada no Caminho pelo António Pablos, a companhia que fizemos à Augusta e ao João enquanto esperavamos pelo táxi, a água na Quinta depois de nos perdemos e quando lhes cantámos o Povo de Deus, a Missa e o padre francicano nos Capuchinhos em Vigo, a partida e as orações e cânticos na Igreja dos Picos em Vigo, o Caminho até Redondela cantando o Hombre de Cromañon J, o terço em Cedeira debaixo de chuva antes de chegar a Redondela, o banho ao final do dia na praia de Cesantes, o jantar de percebes, o amanhecer em Cesantes, a foto de grupo em Pontesampayo, a visita à Igreja da Peregrina, rezando e cantando, a  companhia do Celestino Lores em Pontevedra, a visita ao Mosteiro de Poio, a chegada a Combarro, o delicioso almoço em Combarro regado pelo simpático albariño, a simpatia da Maria José,a motorista que nos levou até à descida para Armenteira e nos proporcionou tão maravilhosas vistas sobre a Ria, o encantamento de Armenteira, a emoção do abraço, do carinho, do Amor da Irmã Lourdes e da Irmã Paula, as Vésperas, as Completas, a penumbra e o silêncio quando as Irmãs saem da Capela e vão para a Clausura, o Claustro, o silêncio do Mosteiro e a Paz dessa noite.... as Laudes e a Missa às 7h30.... os salmos e as orações que nos dedicam...., a partida ao som das gaitas de foles, o percurso da Auga e da Pedra, o Angelus, o terço e as sevilhanas .... a ausência de comida.... os vinhedos por Barrantes.... a chegada a Vila Nova de Arousa, olhando aquele mar com frio, vento, chuva e muito cansaço....o miminho da queimada que nos aqueceu a alma no Hotel Leal.... o mau tempo que nos fez mudar de Vida e não subir a ria de barco, mas nos proporcionou um dia fantástico cheio de boas surpresas.... porque abriu o sol, passeamos, visitamos o museu de D. Ramón de Valle-Inclan, nos levou inesperadamente à Missa da “Srª da Pastoriza” onde fomos altamente agraciados pelo Pároco pela nossa presença, com um acolhimento especial por sermos Peregrinos a Santiago.... foi um derramar de lágrimas que nos fez saltar todas as “dores” e deixá-las, lá aos Pés da Señora...., o banho burbulhante no Balneario Acuña, a Massagem, a Missa em Caldas de Reis, tão oportuna pela Carta de Santiago, que parecia dedicada “só” ao nosso grupo... e depois o jantar no Moiño...., o terço na Igreja de Padron, um classico do nosso grupo, sentados nos bancos do costume, revendo na minha memória todos aqueles que ao longo de 10 anos nos têm acompanhado, e principalmente os que têm repetido peregrinações, são “levezinhos” e contribuem para a harmonia de Ultreya... aqueles a quem intitulo de “núcleo duro” e são o futuro de Ultreya.... o jantar no Hotel Scala, em que nos ofereceram um bolo de aniversário pelos 40 anos de matrimónio, uma queimada surpresa e ainda.... um final de noite na Discoteca. Todas as vezes que cantámos.... todas as vezes que rezámos e cantámos a Consagração.

E por último....O último dia... forte, doloroso, chuvoso.... cheios de emoções.... ao partirmos apenas 14, ao cantarmos a Rianxeira no café Rianxo na Esclavitud, o almoço na moradia em obras, e também a espera pelo Jaime (que afinal tardava porque se tinha perdido pois foi à procura dum lugar onde almoçar juntos e perdeu-se).... nunca se abandona o último.... e tantas vezes isso foi pesado, mas por outro lado de grande generosidade da parte de todos.... são momentos de dádiva que Deus nos dá para sermos melhores.... a partida de mais 7 que não “poderam esperar 10 minutos” .... acreditem que pré-senti o que iria acontecer.... a largada do Jose Manuel porque não “podia mais”.... e a chegada juntos comigo de apenas 7 (a Fernanda, a Balbina, a Augusta, o João, a Cecília, o Jaime e eu própria.....) Não há acasos... tudo está escrito no Céu... cada um necessita entender para quê nos acontecem determinadas situações.... mas uma coisa vos garanto.... na Peregrinação, seja de 7 dias, 10 ou mais.... vive-se a Vida, vive-se como se vive habitualmente, vive-se como precisamos “escutar sinais” e vive-se a Lei da Causa-efeito... o que semeamos, colhemos. TODOS. Foi uma profunda tristeza que vivi no meu coração. Nunca tinha acontecido em 10 anos, não chegarmos TODOS JUNTOS. E já tivemos muitos dias de chegar empapados ao destino e até mesmo a Santiago, como foi o caso há 2 anos atrás.

Por fim.... afinal com 10 minutos de atraso, chegamos 2 horas antes... caramba, foi forte. E estou muito grata aos que me acompanharam na chegada e aos outros também, pois tudo foi para mim aprendizagem. Desejo sinceramente que também aprendam com isso e se perguntem para quê me aconteceu isto....

E ainda... quero mencionar outros momentos de profunda emoção, no dia da chegada e no seguinte: o abraço ao Apóstolo, a Oração na Cripta, a Adoração ao Santíssimo, a Compostela que dediquei à minha filha Vera, que nesse dia 16, fazia 9 anos de casada, a Reconciliação (palavras sábias e profundamente apaziguadoras que recebi daquele Santo padre que me escutou) e a subida ao Altar.... a Leitura e a Invocação, este ano de novo escrita por mim. E carregar nas costas o saco com a cruz de Santiago e as nossas intenções lá dentro é maravilhoso.

Não há acasos e todos aqueles que escolhemos para nos acompanhar no Altar, foi altamente simbólico. Chegamos 7 juntos ao Obradoiro e na Catedral disseram-nos que só podiamos ser 7 no Altar. Todos os outros teriam de ficar no Transepto. Melhor agora, que ao menos têm lugar especial e reservado, para quem paga o Botafumeiro e este ano pagámos. Mas disso já falo a seguir.

E escolhemos de forma simbólica: eu e o Jaime, este anos juntos, como durante 40 anos.... um que não fez o Caminho no último dia e que representou os que “ficam de fora” mas não excluimos, alguém que veio pela primeira vez, acabou junto connosco e viveu intensamente a Peregrinação em todos os seus componentes, e os outros porque são Peregrinos MESMO.... Isto não quer dizer que não houvesse dos restantes 14 MAIS PESSOAS que merecessem estar no Altar, claro que sim. Mas.... como só tinhamos 7 lugares, foi este o critério. E como na minha t-shirt levava o nome de todos, ninguém foi exlcuído. Quem sabe, no próximo ano voltam e têm essa oportunidade. Deixemos... é bom praticar o Desapego: “Let go anda let God”.

Voltando ao botafumeiro... 19 pessoas do nosso grupo pagaram os 350 euros que a Catedral pede. Foi para os 2 outros elementos do grupo um  previlégio ter vivido essa oportunidade. Seguramente estão gratas. Chegar com Botafumeiro e entregar simbolicamente as nossas intenções nesse voo até ao Céu.... é outra coisa. E generosamente oferecemos também esse momento a todos aqueles que assistiram à Missa. É bom fazer Bem, incondicionalmente.

Outro momento muito especial foi a visita à Susana, Secretária da Archocofradia do Apóstolo Santiago da qual somos membros e também ser reconhecida por algumas pessoas nas ruas, que me agradeceram a Invocação que escrevi e li, e que lhes provocou emoção.

Eu é que agradeço, pois fui instrumento do Espírito Santo e pelos vistos toquei outros corações.

Termino agradecento a Deus, à Nossa Mãe do Céu e a Santiago por mais esta Peregrinação. Levei 20 pessoas, da forma que quizeram e poderam. Fiz a minha parte. Cumpri a minha Missão. Estive ao Serviço. Agradeço a todas as pessoas maravilhosas, que estiveram presentes, disponíveis, atentas, generosas e me acompanharam no Espírito de Peregrinação.

Fui imperfeita, porque sou Humana, mas Vivi Intensamente porque me entreguei incondicionalmente com o propósito de que cada um cumprisse o seu Caminho, por vezes abanando, mesmo que incompreendida. Cada um de nós faz o melhor que pode e sabe, ao nível da Consciência que tem. E de alguma maneira levar 13 novos Peregrinos é fantástico e Santiago deve estar muito feliz. E ter um núcleo de 8 repetentes... é sentir que vivemos junto com Compromisso, Fé, Busca, Gratidão e Amor!

Obrigada!

Ultreya!!! Sempre em frente com Coragem!!!

Um abraço peregrino e até breve

Isabel Blanco Ferreira

 


 


ULTREYA! - "Vai para a frente com Coragem"

Suseia! Sempre em frente!

 
Fazer o Bem, Sempre – Teresa de Saldanha, Fundadora das Irmãs Dominicanas em Portugal

 

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(Madre Teresa de Calcutá)

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