Chegada a Mosteiro de Armenteira
Queridos Peregrinos Ultreya X
Agora... 6 dias depois de chegar do Caminho e da Paz emanada de
Santiago.... posso dizer que tudo acabou Bem. Porque tudo acaba sempre Bem.
Como disse o Pe. Ricardo Neves antes de morrer: “Tudo acaba Bem,
e tem um Bom Fim, porque Deus me cura ou me leva para o Céu”. Concordo. É uma
boa perspectiva.
Afinal tudo vem de Deus e é o que Ele quer para nós e para
nossa Aprendizagem e Mudança de Vida....
Durante 8 meses preparei Ultreya X com carinho e muito pormenor.
O percurso, os Alojamentos, os 10 dias de Menús diferentes de acordo com as
vontades/necessidades de cada um, os transportes, a Santiopédia....Recebi
durante 7 meses consecutivos todos os que quizeram pôr-se a Caminho.
Uns mais vezes, outros menos... sempre quando cada um
queria/podia. Cada vez confirmo mais que à volta da nossa mesa de jantar tudo é
fácil... todos concordam com os requesitos e todos prometem que irão deixar-se
levar pelo Espírito de Santi e o propósito do Peregrinar com Ultreya.... que
tão bem identificamos como Peregrinamento.... nunca confundir com
Turigrinamento....
Mas no Caminho a coisa pia mais fino J
Há os que Sim e há os que Também... porque afinal se uns vão
como Peregrinos outros passam a Peregrinos no momento que entram na Catedral.
Isso foram as palavras sábias do Cabildo D. Luis na Homilia. Mesmo que não nos
apercebamos disso, é assim que Deus nos vê. Porque Deus vê-nos sempre... Ele
saba onde estamos, mesmo que nós não saibamos onde Ele está e não o levemos na
nossa Mochila.
A Peregrinação correu mesmo Bem. Acreditem.
Começou em Pico de Regalados numa Festa... tal como Jesus, fez o
seu Primeiro Milagre nas Bodas de Canã, num Casamento, Ultreya X começou à
volta do nosso 40º aniversário de Matrimónio... e com muita festa, comida,
música, dança, visitas culturais, gastronómicas, Missa, renovação de votos,
bençãos, fotos e brindes, com pormenores, no cântico do Povo de Deus, trazido
pela Fernanda e transformado no nosso Hino, e do Bom Pastor, que tanto dizem ao
nosso grupo, os Missais, os Marcadores, as Pagelas, o bolo alusivo ao lenço dos
Namorados, os licores.... e muita Amizade, Companheirismo e Amor... nunca
esquecerei todos aqueles que poderam estar presentes nesses dias 5 e 6 e
conseguiram que fossemos a sua Prioridade. Claro que houve quem estivesse em
espírito e lamentavelmente sem presença física e bem sabemos a pena que tiveram
e a amizade que nos dedicam.
Mas a Vida é assim... nem sempre temos tudo que desejamos, mas
temos seguramente tudo que precisamos.
E lá fomos nós até Tomiño... carregados de malas, bagagens, e
muita coisa prescindivel... mas é tão difícil desapegarmo-nos ... tudo parece
que precisamos.... e depois....
Essa primeira paragem junto à Igreja de Santa Maria e a visita
ao Cemitério onde estão os meus Abuelitos, foi profundamente simbólica. E
também essa primeira oração à Virgen do Alívio, onde partilhámos da Novena, foi
voltar mais de 50 anos atrás, mas por outro lado viver no Presente a devoção à
nossa Mãe e pedir-lhe colo no nosso peregrinar é muito reconfortante. E
ainda... encontrar e conhecer a prima Esperanza Blanco foi uma alegre
“casualidade”.... daquelas que o Caminho nos proporciona J
No dia 7 partíamos por um Caminho desconhecido, mas com
Esperança, Silêncio, Fé e Vontade de Escutar o que o Caminho e Deus tinha para
me dizer... Ah e quanto me disse.
Foi uma peregrinação muito desafiante.... há anos que não
cruzava tantas “pontes” entre as margens de Deus e do “mafarrico”... sim, o
mafarrico este ano foi connosco. Meteu-se nas mochilas, nos corações, nos
olhares, nas maledicências, nas criticas, nos desafios à liderança, nos
atrasos, na ausência de escuta da Santiopedia e das leituras, na ausência de
oração, na desatenção se havia comida para os outros ao “abarbatarmos” tudo que
era possível arrebanhar, na ingratidão, no afastamento, quando naquela
encruzilhada ... e de seguida nos perdemos e demos voltas e voltas.... mas
depois até encontrámos um portão aberto, uma sombra e 2 mulheres que nos
acabaram por acolher tão generosamente, nos deram água, os seus sorrisos .... e
até mesmo sempre que alguém não se dava aos outros no Caminho.... porque a
paragem na Escola com as Crianças e a visita à Família de Jesus que alguns não
quizeram viver, foram momentos em que o Mafarrico andava junto, tal como na
noite da Discoteca, que bastava estar 5 minutos e já ofereciamos gratidão a
quem nos abriu a sua casa.... esses momentos de não presença, desviando-nos do
Caminho... Como foi bom escutar e vibrar com aqueles olhos cor do Mar do
professor das crianças. Como foi bom dar aquele abraço à filha de Jesus e partilhar
momentos com gente boa, pois aquela jovem que cuida dum filho doente e duma
filha do coração e tem aquele olhar, só pode ser de Bem e faz-nos sentir Bem.
Ir a Santiago com Ultreya não é fazer turismo, porque para isso
há muitas formas menos cansativas e até quem sabe mais económicas... nós não
vamos às compras, nós não temos tempo par fazer visitas culturais a
monumentos... nós só temos tempo para o Caminho, para o Silêncio Interior, para
a Reflexão, para a Alegria e os bons momentos da vida incluindo os
gastronómicos e as Cantorias, para a Oração, Meditação e para poder Amar...
Claro que peregrinar está de moda e é uma boa moda.... mas não vale a pena
peregrinar “por moda”, porque é giro, sei lá... porque conheço gente que
foi.... mas depois não quero chuva, não quero sol, não quero vento, não quero
comer o que me põem à frente, não quero parar quando o grupo quer e precisa,
não quero rezar ou acompanhar quem reza porque não me apetece.... e por aí em
diante....
No Caminho todos nos tornamos melhores e todos somos desafiados
a activar o pior de nós.... isso é quando o mafarrico encontra a nossa brecha.
Mas tivemos muito mais momentos altos onde Deus esteve lá, tomou
conta de nós, apontou Caminho, fez-nos amar, ser alegres e felizes... e ía na
nossa mochila...
E foram para mim muitos... e muito diferentes todos. Partilho
alguns....para além do que vivemos aqui no Pico e em Tomiño, a escuta do Hino
de España à porta da Igreja de Tebra, a visita inesperada no Caminho pelo
António Pablos, a companhia que fizemos à Augusta e ao João enquanto
esperavamos pelo táxi, a água na Quinta depois de nos perdemos e quando lhes
cantámos o Povo de Deus, a Missa e o padre francicano nos Capuchinhos em Vigo,
a partida e as orações e cânticos na Igreja dos Picos em Vigo, o Caminho até
Redondela cantando o Hombre de Cromañon J,
o terço em Cedeira debaixo de chuva antes de chegar a Redondela, o banho ao
final do dia na praia de Cesantes, o jantar de percebes, o amanhecer em
Cesantes, a foto de grupo em Pontesampayo, a visita à Igreja da Peregrina,
rezando e cantando, a companhia do Celestino Lores em Pontevedra, a
visita ao Mosteiro de Poio, a chegada a Combarro, o delicioso almoço em
Combarro regado pelo simpático albariño, a simpatia da Maria José,a motorista
que nos levou até à descida para Armenteira e nos proporcionou tão maravilhosas
vistas sobre a Ria, o encantamento de Armenteira, a emoção do abraço, do
carinho, do Amor da Irmã Lourdes e da Irmã Paula, as Vésperas, as Completas, a
penumbra e o silêncio quando as Irmãs saem da Capela e vão para a Clausura, o
Claustro, o silêncio do Mosteiro e a Paz dessa noite.... as Laudes e a Missa às
7h30.... os salmos e as orações que nos dedicam...., a partida ao som das
gaitas de foles, o percurso da Auga e da Pedra, o Angelus, o terço e as
sevilhanas .... a ausência de comida.... os vinhedos por Barrantes.... a
chegada a Vila Nova de Arousa, olhando aquele mar com frio, vento, chuva e
muito cansaço....o miminho da queimada que nos aqueceu a alma no Hotel Leal....
o mau tempo que nos fez mudar de Vida e não subir a ria de barco, mas nos
proporcionou um dia fantástico cheio de boas surpresas.... porque abriu o sol,
passeamos, visitamos o museu de D. Ramón de Valle-Inclan, nos levou
inesperadamente à Missa da “Srª da Pastoriza” onde fomos altamente agraciados
pelo Pároco pela nossa presença, com um acolhimento especial por sermos
Peregrinos a Santiago.... foi um derramar de lágrimas que nos fez saltar todas
as “dores” e deixá-las, lá aos Pés da Señora...., o banho burbulhante no Balneario
Acuña, a Massagem, a Missa em Caldas de Reis, tão oportuna pela Carta de
Santiago, que parecia dedicada “só” ao nosso grupo... e depois o jantar no
Moiño...., o terço na Igreja de Padron, um classico do nosso grupo, sentados
nos bancos do costume, revendo na minha memória todos aqueles que ao longo de
10 anos nos têm acompanhado, e principalmente os que têm repetido
peregrinações, são “levezinhos” e contribuem para a harmonia de Ultreya...
aqueles a quem intitulo de “núcleo duro” e são o futuro de Ultreya.... o jantar
no Hotel Scala, em que nos ofereceram um bolo de aniversário pelos 40 anos de
matrimónio, uma queimada surpresa e ainda.... um final de noite na Discoteca.
Todas as vezes que cantámos.... todas as vezes que rezámos e cantámos a
Consagração.
E por último....O último dia... forte, doloroso, chuvoso....
cheios de emoções.... ao partirmos apenas 14, ao cantarmos a Rianxeira no café
Rianxo na Esclavitud, o almoço na moradia em obras, e também a espera pelo
Jaime (que afinal tardava porque se tinha perdido pois foi à procura dum lugar
onde almoçar juntos e perdeu-se).... nunca se abandona o último.... e tantas
vezes isso foi pesado, mas por outro lado de grande generosidade da parte de
todos.... são momentos de dádiva que Deus nos dá para sermos melhores.... a
partida de mais 7 que não “poderam esperar 10 minutos” .... acreditem que
pré-senti o que iria acontecer.... a largada do Jose Manuel porque não “podia
mais”.... e a chegada juntos comigo de apenas 7 (a Fernanda, a Balbina, a
Augusta, o João, a Cecília, o Jaime e eu própria.....) Não há acasos... tudo
está escrito no Céu... cada um necessita entender para quê nos acontecem
determinadas situações.... mas uma coisa vos garanto.... na Peregrinação, seja
de 7 dias, 10 ou mais.... vive-se a Vida, vive-se como se vive habitualmente,
vive-se como precisamos “escutar sinais” e vive-se a Lei da Causa-efeito... o
que semeamos, colhemos. TODOS. Foi uma profunda tristeza que vivi no meu
coração. Nunca tinha acontecido em 10 anos, não chegarmos TODOS JUNTOS. E já
tivemos muitos dias de chegar empapados ao destino e até mesmo a Santiago, como
foi o caso há 2 anos atrás.
Por fim.... afinal com 10 minutos de atraso, chegamos 2 horas
antes... caramba, foi forte. E estou muito grata aos que me acompanharam na chegada
e aos outros também, pois tudo foi para mim aprendizagem. Desejo sinceramente
que também aprendam com isso e se perguntem para quê me aconteceu isto....
E ainda... quero mencionar outros momentos de profunda emoção,
no dia da chegada e no seguinte: o abraço ao Apóstolo, a Oração na Cripta, a
Adoração ao Santíssimo, a Compostela que dediquei à minha filha Vera, que nesse
dia 16, fazia 9 anos de casada, a Reconciliação (palavras sábias e
profundamente apaziguadoras que recebi daquele Santo padre que me escutou) e a
subida ao Altar.... a Leitura e a Invocação, este ano de novo escrita por mim.
E carregar nas costas o saco com a cruz de Santiago e as nossas intenções lá
dentro é maravilhoso.
Não há acasos e todos aqueles que escolhemos para nos acompanhar
no Altar, foi altamente simbólico. Chegamos 7 juntos ao Obradoiro e na Catedral
disseram-nos que só podiamos ser 7 no Altar. Todos os outros teriam de ficar no
Transepto. Melhor agora, que ao menos têm lugar especial e reservado, para quem
paga o Botafumeiro e este ano pagámos. Mas disso já falo a seguir.
E escolhemos de forma simbólica: eu e o Jaime, este anos juntos,
como durante 40 anos.... um que não fez o Caminho no último dia e que
representou os que “ficam de fora” mas não excluimos, alguém que veio pela
primeira vez, acabou junto connosco e viveu intensamente a Peregrinação em
todos os seus componentes, e os outros porque são Peregrinos MESMO.... Isto não
quer dizer que não houvesse dos restantes 14 MAIS PESSOAS que merecessem estar
no Altar, claro que sim. Mas.... como só tinhamos 7 lugares, foi este o
critério. E como na minha t-shirt levava o nome de todos, ninguém foi exlcuído.
Quem sabe, no próximo ano voltam e têm essa oportunidade. Deixemos... é bom
praticar o Desapego: “Let go anda let God”.
Voltando ao botafumeiro... 19 pessoas do nosso grupo pagaram os
350 euros que a Catedral pede. Foi para os 2 outros elementos do grupo um
previlégio ter vivido essa oportunidade. Seguramente estão gratas. Chegar com
Botafumeiro e entregar simbolicamente as nossas intenções nesse voo até ao
Céu.... é outra coisa. E generosamente oferecemos também esse momento a todos
aqueles que assistiram à Missa. É bom fazer Bem, incondicionalmente.
Outro momento muito especial foi a visita à Susana, Secretária
da Archocofradia do Apóstolo Santiago da qual somos membros e também ser
reconhecida por algumas pessoas nas ruas, que me agradeceram a Invocação que
escrevi e li, e que lhes provocou emoção.
Eu é que agradeço, pois fui instrumento do Espírito Santo e
pelos vistos toquei outros corações.
Termino agradecento a Deus, à Nossa Mãe do Céu e a Santiago por
mais esta Peregrinação. Levei 20 pessoas, da forma que quizeram e poderam. Fiz
a minha parte. Cumpri a minha Missão. Estive ao Serviço. Agradeço a todas as
pessoas maravilhosas, que estiveram presentes, disponíveis, atentas, generosas
e me acompanharam no Espírito de Peregrinação.
Fui imperfeita, porque sou Humana, mas Vivi Intensamente porque
me entreguei incondicionalmente com o propósito de que cada um cumprisse o seu
Caminho, por vezes abanando, mesmo que incompreendida. Cada um de nós faz o
melhor que pode e sabe, ao nível da Consciência que tem. E de alguma maneira
levar 13 novos Peregrinos é fantástico e Santiago deve estar muito feliz. E ter
um núcleo de 8 repetentes... é sentir que vivemos junto com Compromisso, Fé,
Busca, Gratidão e Amor!
Obrigada!
Ultreya!!! Sempre em frente com Coragem!!!
Um abraço peregrino e até breve
Isabel Blanco Ferreira
ULTREYA! - "Vai
para a frente com Coragem"
Suseia!
Sempre em frente!
Fazer o Bem,
Sempre – Teresa de Saldanha, Fundadora das Irmãs Dominicanas em Portugal
Não devemos
permitir que alguém saia da nossa presença sem se sentir melhor e mais feliz
(Madre Teresa de Calcutá)
In spite of everything, I still
believe that people are really good at heart (Anne Frank)
Be the world you want to see – Mahatma
Gandhi
Es feliz el que
soñando, muere. Desgraciado el que muera sin soñar - Rosalía de Castro